quarta-feira, 11 de abril de 2012

A ARTISTA E A ARTE DE ENSINAR ARTE

A arte de uma artista que ensina a fazer arte revela um diálogo. A conversa de dois fazeres que se reforçam, vinculam e realimentam constantemente. Essa troca de experiências torna-os (o fazer arte e o ensinar arte) muito mais fortes e potentes.
Nesta mostra tão afetiva, entre memórias pessoais, arqueologias e relíquias, objetos saem de uma caixa de recordações para assumir o papel de protagonistas de uma arte sensível e biográfica, transformando em pinturas as suas referências simbólicas.
Caminha através desses anos sempre olhando para si e para o mundo, para as mudanças e para as transformações da arte do seu tempo, do nosso tempo, do tempo de seus alunos.
Segundo Cecília Salles, "o artista tenta detectar, muitas vezes, a ponta do fio que desata o emaranhado de ideias, formas e sensações que tornam uma obra possível."
E assim, esse fio vai se desenrolando em objetos, instalações, fotografias que a levam a refletir: "Como pintar se o mundo pintou por mim?"
Essa obra nos seduz, tanto pela riqueza de poéticas e suportes quanto pela possibilidade de relacionar seu fazer artístico às suas referências como educadora, que tem deixado nesses 30 anos de Escola Comunitária um toque de poesia na maneira de ver, entender e fazer arte, uma semente plantada em alunos, colegas e funcionários desta Escola.
E tudo isso fica, como na poesia
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim?
[...]
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,

[...]
este segredo infantil..."

Ana Helena Grimaldi – 2012
Conselheira consultiva da
Galeria de Arte da Escola Comunitária – "Francisco Biojone"

 

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